O degelo do Árctico afecta directamente a vida das algas e dos pequenos animais que formam a cadeia alimentar da qual dependem os peixes, os mamíferos como os ursos polares, as focas e o próprio homem - Crédito: wikipédia
O gelo flutuante sobre o Árctico este verão diminuiu até um mínimo recorde. Nos últimos cinco anos observaram-se as menores extensões de gelo no mar, desde que começaram as medições por satélite, na década de 1970.
Este ano, a extensão do gelo do mar Árctico é comparável ao nível mais baixo registado em 2007. De acordo com os cientistas da Universidade de Bremen, na Alemanha, o gelo do mar no início de Setembro era mesmo inferior ao registado nesse ano. Os mapas sobre a extensão de gelo que são publicados regularmente pelos climatologistas da Universidade de Bremen mostram que, em 8 de Setembro de 2011, o gelo sobre o Árctico cobria 4,24 milhões de quilómetros quadrados, o que representa um recorde histórico, pois a mínima extensão conhecida, foi em 17 de Setembro de 2007, com um valor de 4,27 milhões de quilómetros quadrados.
Contudo, esse mínimo ainda pode baixar mais, porque o período de degelo ainda não acabou no oceano polar norte, faltando ainda mais uma semana em que pode haver fusão do gelo. A água do Árctico segue um ciclo de congelação e degelo, com um máximo de extensão em Março, no final do Inverno, e um mínimo em Setembro, quando acaba o Verão.
O centro norte-americano especializado na observação da neve e do gelo (National Snow and Ice Data Center) considera que o recorde ainda não foi batido mas está perto de o ser.
As equipas internacionais usam vários métodos para medir o gelo do mar, com base em diferentes observações de satélite, resultando pequenas diferenças, pouco significativas, nas medições efectuadas. Os resultados são coerentes na mesma.
Há já algum tempo que os cientistas discutem a possibilidade de se atingir um mínimo de gelo este ano, porque ficaram abertas, simultaneamente, duas grandes rotas de navegação no Oceano Ártico, indicando uma redução significativa na cobertura de gelo marinho. Isto ocorreu, pela primeira vez na história conhecida, em 2008 e em 2009 e voltou a acontecer pela terceira vez em 2011.
De facto, em Agosto deste ano, passou a ser possível utilizar duas passagens que estiveram fechadas durante muitos séculos. A Passagem do Noroeste, ao norte do Canadá, e a Passagem do Nordeste, pelo norte da Sibéria, agora estão abertas aos grandes barcos de carga.
A abertura destas novas rotas de navegação despertou o interesse pela exploração dos recursos do Árctico como a pesca, os minerais e o petróleo do fundo marinho. Todas estas possibilidades tem gerado algumas disputas diplomáticas entre os países da área, Rússia, Estados Unidos, Canadá, Noruega e Dinamarca, que tentam negociar os limites fronteiriços nas águas árcticas. A Noruega já começou a extracção no seu território mais a norte, que ultrapassa o Círculo Polar Árctico. O Pólo Norte converteu-se no centro de uma batalha geoestratégica.
De acordo com os especialistas de Bremen, o crescente degelo do Árctico resulta da acção humana e da emissão de gases de efeito de estufa que aquecem a atmosfera. O recuo do gelo no mar não pode ser explicado pela variabilidade natural ou fenómeno meteorológico de um ano para o outro, mas sim uma consequência das alterações climáticas provocadas pelo homem, que no Árctico são agravadas pelo efeito albedo.
Uma superfície coberta de neve ou gelo reflecte mais a luz do Sol do que uma extensão de mar sem gelo, que absorve mais luz solar e calor, aquecendo mais rapidamente e produzindo mais degelo. Todo o processo se agrava e cada vez há menos água gelada.
Para além disso, a camada de gelo que se forma no inverno é cada ano mais fina e mais frágil que os gelos mais antigos que já se perderam e, por isso, ao chegar à Primavera, desaparece mais depressa que dantes.
Os especialistas da Universidade de Bremen, liderados por Georg Heygster, observam os pólos com o satélite Aqua da NASA, há muitos anos. Para eles, o degelo árctico resulta das alterações climáticas, com consequências a nível global e afecta directamente os ecossistemas boreais, como "as algas e os pequenos animais que formam a cadeia alimentar da qual dependem os peixes, os mamíferos como os ursos polares, as focas e o próprio homem".
Fonte: El mundo / ESA
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