Mercúrio observado pela sonda MESSENGER, em 6 de Outubro de 2008 - Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution of Washington
Após seis meses na órbita de Mercúrio, os dados enviados pela sonda MESSENGER, da NASA, estão a obrigar os cientistas a reformular o que os cientistas pensam sobre este planeta mais interno do Sistema Solar, de acordo com sete artigos publicados, em 30 de Setembro de 2011, na revista Science.
Os relatórios apresentam imagens de alta resolução e dados de raios X que fornecem novos detalhes sobre a composição da superfície de Mercúrio, assim como a história geológica do planeta e campo magnético.
MESSENGER é a segunda sonda a visitar Mercúrio, seguindo o sobrevoo da Mariner 10, em meados dos anos 1970. Lançada em 2004, a nave espacial começou a orbitar Mercúrio em 18 de Março deste ano.
Observações da superfície por vários instrumentos revelam, entre ouitas coisas, que Mercúrio está aparentemente coberto de enxofre e tem uma história vulcânica. A abundância do elemento potássio (K) moderadamente volátil, em relação ao Tório (Th) e Urânio (U), contraria os modelos físicos para a formação de Mercúrio que necessitam de aquecimento extremo do planeta, pois o calor intenso teria feito desaparecer estes elementos voláteis.
A composição da superfície de Mercúrio é substancialmente diferente da dos outros planetas terrestres, com pelo menos 10 vezes mais enxofre que a Terra ou a Lua. Isto sugere que o planeta se formou a partir de material já conhecido em certos meteoritos condritos rochosos e partículas de poeiras de cometas.
Por outro lado, as análises da sonda determinaram as abundâncias dos elementos potássio radioactivo, tório e urânio. As medições da relação de potássio para o tório, juntamente com a abundância de enxofre detectada, indicam que Mercúrio tem níveis de materiais voláteis comparáveis aos de Vénus, Terra e Marte, e muito maior do que a Lua.
Mas a abundância destes mesmos elementos, mais ou menos voláteis, também indica que a produção de calor interno tem diminuído bastante desde a formação de Mercúrio, de acordo com o vulvcanismo generalizado logo após terminar o bombardeamento massivo há 3,8 biliões de anos, seguido de actividade vulcânica limitada e localizada desde então.
Vista do Pólo Norte de Marcúrio. Os círculos vermelhos representam crateras de impacto maiores que 20 km de diâmetro. A área de planícies de lava solidificada do norte (dentro da linha preta), mapeada por MESSENGER a partir da órbita, abrange 4,7 milhões km quadrados, mais de 6% da superfície do Mercúrio. Nota-se que o número de crateras sobrepostas nas planícies é muito menor que nas áreas circundantes, o que indica a relativa juventude das planícies de lava - Crédito: NASA/Courtesy of Science/AAAS and Brown University
As imagens de alta resolução da sonda revelaram que uma camada de lava solidificada, com mais de um quilómetro de espessura, cobre mais de 6% da área norte do planeta. Grandes quantidades de lava brotaram através de fracturas na superfície, inundando a região, durante um fenómeno vulcânico relativamente curto, entre 3,5 e 4 biliões de anos atrás.
As imagens da superfície de Mercúrio surpreendentemente também mostraram uma paisagem única, formada por muitos buracos sem bordas salientes e de formas irregulares. Estas concavidades, com diâmetros entre dezenas de metros a poucos quilómetros, ocorrem através de Mercúrio em zonas de substratos brilhantes, no meio de crateras de impacto de meteoritos, e frequentemente aparecem formando aglomerados.
Imagem de uma grande cratera (Tyagaraja, 97 km de diâmetro) com um piso parcialmente coberto por um grande número de concavidades, em cor verde/azul. No centro parece haver uma chaminé vulcânica por onde brotou o material laranja - Crédito: NASA/Cortesia de Science/AAAS
Os cientistas suspeitam que estas cavidades foram criadas por sublimação dos materiais depositados como, por exemplo, enxofre. Os materiais libertaram-se da superfície por combinação de vários factores como aquecimento, vulcanismo explosivo, micrometeoritos ou bombardeamento de radiação solar, o que sugere que Mercúrio tem níveis de materiais voláteis mais elevados do que se pensa e ainda pode estar geologicamente activo, pois a sua superfície pode estar a alterar-se por perda de alguns materiais.
Messenger também investigou o campo magnético de Mercúrio, o único planeta terrestre, além da Terra, que tem um campo magnético global. Estes campos têm a sua origem nos fluidos condutores de electricidade que se movem nos núcleos de metal líquido desses planetas e que funcionam como os seus dínamos.
A magnetosfera da Terra protege a nossa atmosfera, o que é vital para a existência de vida no nosso planeta.
No entanto, o campo magnético de Mercúrio é muito mais fraco que o da Terra. Provavelmente porque o dínamo de Mercúrio resulta de uma fina camada de metal fundido no neu núcleo exterior. Esta magnetosfera fraca oferece pouca resistência aos ventos solares.
A magnetosfera da Terra consegue desviar a maior parte do vento solar, mas em Mercúrio, o vento solar atinge a superfície do planeta nos pólos, atirando partículas carregadas de sódio para fora. Estas partículas acabam por fazer parte da "exosfera", a camada de moléculas muito ténue que compõe a atmosfera ( ou o que mais se parece a uma atmosfera) de Mercúrio.
De acordo com Thomas Zurbuchen, autor de um dos relatórios científicos, da Universidade de Michigan: "Fomos capazes de observar o processo de formação destes íons, que é comparável à maneira pela qual se formam as auroras na atmosfera da Terra, perto das regiões polares".
"Os nossos resultados mostram que a fraca magnetosfera de Mercúrio protege pouco o planeta contra o vento solar," continuou o cientista. "O clima espacial extremo deve ser uma actividade contínua na superfície do planeta mais próximo do Sol".
Mais indormações sobre Mercúrio no site da missão MESSENGER.
Fonte: NASA / Space.com
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