quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mesmo os robôs podem ser altruistas

Por que é que o comportamento altruísta surge em certas situações? Há mais de 50 anos, o biólogo William Donald Hamilton (1936-2000) propôs um regra que afirma que um organismo divide comida com outro com base na quantidade de genes que divide com ele, isto é, de acordo com o grau de parentesco.
Esta regra foi testada e comprovada agora por pesquisadores da Universidade de Lausanne e da Escola Politécnica Federal de Lausanne, ambas na Suiça, utilizando robôs miniatura que simulavam genes e funções genéticas, os chamados algoritmos genéticos.

Robôs miniatura imitaram a Natureza (reprodução)

“Ficamos muito surpresos com o encaixe entre as previsões do modelo [de Hamilton] e o que os robôs estavam fazendo”, afirmou Laurent Keller, da Universidade de Lausanne.
As simulações de robôs miniaturizados que "evoluem" ajudando comportamentos, forneceram uma possível resposta, confirmando a teoria de 47 anos: ajudamos aqueles que estão mais relacionados com a gente, porque eles são capazes de passar alguns dos nossos genes para a próxima geração.
Para todos os organismos, o objectivo é transmitir os seus genes. Mas o altruísmo, que sacrifica os ganhos individuais a favor do bem comum, pode comprometer esse objetivo. Na década de 1960, o biólogo WD Hamilton apontou que, na verdade, ainda se podia transmitir os genes, ou pelo menos alguns deles, ajudando um parente. De acordo com a sua teoria da seleção por parentesco, quanto mais próximo o parente maior é este benefício indirecto e, portanto, maior é a disposição para ajudar esse parente.
Em teoria, a regra vai contra a noção de sobrevivência do mais adaptado, base da evolução das espécies proposta por Charles Darwin, mas ela existe na natureza e é passada de uma geração para outra. É o caso, por exemplo, das formigas “trabalhadoras” que são estéreis e sacrificam a transmissão do seu código genético para que a formiga rainha passe os dela à geração seguinte.
Na simulação por computador, os robôs têm duas rodas de funcionamento independente e um "sistema nervoso", composto de sensores e uma câmera, que lhes permitem detectar pequenos discos, que representam comida.
Os pesquisadores também criaram representações virtuais desses robôs num computador, para que pudessem observar a evolução dos robôs ao longo do tempo.
Na vida real, as mutações aleatórias acumulam-se ao longo de muitas gerações, levando a adaptações que ajudam os organismos a sobreviverem melhor no seu ambiente. Na simulação, os investigadores replicaram este processo, fazendo variar de um modo aleatório os pontos fortes das várias ligações que compõem o 'sistema nervoso' do robô. Algumas destas "mutações" ajudaram os robôs a reunir melhor os discos de comida, enquanto alguns tornaram os robôs menos eficientes na tarefa.


Os robôs aprendem a partilhar

Os cientistas realizaram as experiências várias vezes entre os robôs de diferentes níveis de semelhança. Verificou-se que a partir de um determinado ponto de semelhança eles passavam a ser altruístas com os seus colegas. Os robôs virtuais e reais apresentaram comportamento semelhante.
Na verdade, o altruísmo evoluiu rapidamente na simulação, com uma maior partilha de alimentos nos grupos onde os robôs eram mais relacionados. Estes resultados estão publicados na revista PLoS Biology . Quanto mais intimamente relacionados estão os robôs, mais rapidamente colaboraram. "Isto mostra como a teoria é geral, seja um insecto, um ser humano ou um robô", comentou Dario Floreano, especialista em robótica da Escola Politécnica Federal de Lausanne, da Suiça, e que também colaborou no projecto.
Fonte: Science / ÚltimoSegundo

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